O COVID-19 E A CURVA

20 de abril de 2020
Gustavo Biasoli Alves¹
Glauco Vieira Miranda²
Leiliane Pereira de Rezende³

Para compreender alguns dos efeitos da COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus) e com isso basear políticas públicas, tem sido comum utilizar gráficos com o número dos casos registrados ou das mortes ocorridas em função do período de dia. Pode-se enumerar algumas boas iniciativas como: (1) O gráfico produzido e atualizado diariamente pela Universidade Johns Hopkins: ver o gráfico; (2) A Folha informativa COVID-19 publicada pela Organização Mundial da Saúde: Acessar folha informativa; (3) do Jornal paranaense Gazeta do Povo que tem publicado diariamente uma série de gráficos disponíveis em: ir para o jornal Gazeta; e (4) do site worldometers.info com informações globais sobre os números relacionados ao COVID-19.

Baseados em dados oficiais, estes gráficos podem servir para elaborar políticas públicas, que pesa a Espada de Damôcles sobre a cabeça dos governantes: estes devem adotar medidas com presteza e justiça. Neste sentido, uma base de dados acurada e a elaboração de um modelo ou algoritmo para fazer o gráfico preciso são condições essenciais para que as medidas adotadas sejam eficientes.

Ao analisar gráficos baseados em dados oficiais, observa-se que a curva de cada país é feita de maneira generalizada sem as particularidades da base de dados que é muito heterogênea com relação aos padrões de testagem da população não representando corretamente o avanço da doença para os países que realizam poucos testes em relação à população como o caso do Brasil. Os Estados Unidos da América (EUA), a Rússia, a Alemanha e a Itália são os países que mais fizeram testes em sua população, até o momento. O Gráfico 1 mostra a proporção de habitantes por teste realizado e a proporção de casos e mortes de COVID-19 por 1 milhão de habitantes para cada um destes quatro países citados.

Gráfico 1: Relação entre os testes e as mortes por COVID-19
Fonte dos Dados: worldometers (20/04/2020 às 10h30)

Países com testagem próxima como EUA e Rússia ou Alemanha e Itália apresentam inconsistência no número de casos detectados, sendo os EUA com sete vezes mais casos que a Rússia e a Itália com 1,7 vezes mais que a Alemanha (Gráfico 1). Isso mostra que a testagem tem que vir junto com outras atitudes, como o isolamento e rastreamento por exemplo, pois se estes começarem tardiamente, a doença se espalha e não se consegue rastrear e isolar as pessoas.

Ainda, ao observar o Gráfico 1, pode-se notar que a Itália testa quase o dobro dos EUA (1 teste a cada 44,6 habitantes contra 1 teste a cada 85,7 habitantes), tem a maior proporção de casos (2.960 casos a cada 1 milhão de habitantes) e a maior taxa de mortalidade, 391 mortes a cada 1 milhão de habitantes. Outro ponto a observar é a taxa de mortalidade da Rússia. Com a proporção de habitantes por teste realizado de 1 teste a cada 71,2 habitantes, um pouco melhor que os EUA, ela tem a menor taxa de casos (323 casos a cada 1 milhão de habitantes) além da menor taxa de mortalidade, 2 mortes a cada 1 milhão de habitantes. Por fim, a Alemanha, com a segunda maior proporção de habitantes por teste (1 teste a cada 48,5 habitantes) e a segunda maior proporção de casos (1.740 casos a cada 1 milhão de habitantes), tem a menor taxa de mortalidade por COVID-19, 55 mortes para 1 milhão de habitante, quando se desconsidera a Rússia.

Ao fazer estas mesmas comparações com o Brasil, tem-se: 1 teste a cada 3.378,4 habitantes (62.985 testes ao todo) com 184 casos a cada 1 milhão de habitantes (39.144 casos ao todo) e uma proporção de 12 mortes a cada 1 milhão de habitantes (2.484 casos de mortes). No entanto, as previsões dos modelos de evolução da doença com os dados brasileiros são menos precisos porque o número de habitantes por teste é 39 vezes maior do que nos EUA ou 76 vezes maior do que a Itália. Quando os testes são tão poucos para representar os 217 milhões de brasileiros, a incerteza dos valores persiste e, se ainda considerar as regionalidades brasileiras, a situação se agrava. O ex-Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevista à Rede Globo de Televisão admite que os números brasileiros da COVID-19 podem estar sendo subnotificados, ou seja, a quantidade de pessoas infectadas pode ser a mais do que as autoridades conseguem testar. Sendo assim, existe a possibilidade de padrões da curva brasileira ter comportamento diferenciado dos países com grande número de testes para o coronavírus e as ações de interrupção do isolamento serem tomadas precipitadamente com o pico da doença acontecendo antes do esperado.

¹Dr. em Ciência Política-UFRGS (2004). Professor da Unioeste-campus de Toledo.
²Dr. em Genética e melhoramento (1999).Professor da UTFPR câmpus Santa Helena.
³Dra. em Ciência da Computação (2017). Professora da UTFPR câmpus Santa Helena.

Fonte: worldometers (20/04/2020 às 10h30)
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