Se a pandemia não chegou ao fim, por que pessoas fazem fila nos shoppings?

18 de junho de 2020

É conhecida a história de que foi o pai do governador João Doria Jr. (PSDB), de São Paulo, quem criou o Dia dos Namorados no Brasil. As vendas naquele junho de 1948 estavam meio caídas, e então o publicitário criou a data para movimentar o mês. Hoje, o 12 de junho é a terceira comemoração mais importante do varejo brasileiro, atrás do Natal e do Dia das Mães. Por causa da pandemia de Covid-19, mais uma data comercial corria o risco de ser prejudicada.

Na última semana, no entanto, algumas cidades resolveram reabrir as lojas de rua e os shopping centers a tempo do Dia dos Namorados. Um meme circulou na internet, dizendo que em 11 de junho, data de reabertura do comércio, as pessoas sairiam para comprar o presente para parceiro, pegariam Covid-19, passariam para o seu amor no 12 e, até o fim do mês, poderiam ser, até, enterrados juntos. Apesar do peso macabro da piada, até 11 de junho a cidade de São Paulo registrava quase 5 mil óbitos por Covid-19. Mesmo com números tão alarmantes, muita gente não se intimidou e fez fila nas portas do comércio. Passada a data comercial, já são mais de 190 mil casos da doença e 11 mil mortes no es

A ansiedade para voltar a consumir, no entanto, não é exclusividade do povo brasileiro. Mesmo sem data comercial, franceses e australianos fizeram fila para comprar iPhone e britânicos para comprar roupas e acessórios na Primark. O Reino Unido, inclusive, só perde para o Brasil em número absoluto de mortos pela Covid-19. Mas, se a pandemia não chegou ao fim nem aqui nem na Europa (e nem na China), por que as pessoas estão tão ansiosas para voltar às compras? Se as economias estão quebradas, como tem gente preocupada com a troca do celular — a ponto de sair de casa para comprar, em vez de escolher online?

“O ato da compra fala muito mais sobre quem nós somos. O consumo é parte da nossa identidade”, explica Gabriel Rossi, especialista em marketing e comportamento do consumidor e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). “Consumir hoje não é mais ter, é ser”, afirma. A ideia capitalista, que transformou a aquisição de bens em identidade, explica parte do comportamento visto nas grandes cidades de formação de filas nas portas das lojas.


Fonte: UOL
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