Pandemia ressalta importância de dizer a verdade, diz Nobel de Medicina

20 de Maio de 2020

Apesar de terem se passado apenas sete meses desde que os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina foram anunciados, para Peter Ratcliffe parece ser “uma memória distante”. Juntamente com os americanos William Kaelin e Gregg Semenza, o cientista britânico ganhou o Nobel por suas descobertas sobre como as células detectam e se adaptam aos níveis de oxigênio. Mas a alegria de ganhar o Nobel durou pouco: em questão de meses, o mundo entrou em uma guerra contra o novo coronavírus, que deixou centenas de milhares de mortos e milhões de infectados em mais de 200 países.

O cientista diz que “com certeza” poderíamos estar melhor preparados para enfrentar esta pandemia e que houve pessoas que não avaliaram corretamente a gravidade potencial da situação. Ele ainda frisou: “O problema realmente é que parece (que as avaliações erradas) continuam ocorrendo. Ainda não discutimos tudo o que precisa ser feito. Evoluímos lentamente na tentativa de controlar uma epidemia que está em pleno desenvolvimento. Estamos esperando o melhor acontecer, a possibilidade de que a epidemia desapareça de alguma forma”. Mas a maioria das evidências existentes apontam ser improvável que isso ocorra, diz o especialista.

Atrasos na obtenção de testes de diagnóstico e a falta de uma testagem sistemática não permite separar as pessoas infectadas do restante da população. E existem muitos infectados que são assintomáticos. Ele ressalta que o fato de que “erros podem ter sido cometidos no passado, o que é desculpável”, não significa que medidas e políticas não possam ser alteradas no futuro. Ele ainda destaca: “Definitivamente, precisamos de medidas para controlar a epidemia no futuro. O que me preocupa um pouco é a incapacidade de nossa liderança de falar claramente sobre as incógnitas que existem e, às vezes, o que precisa ser feito”.

Para o especialista, um dos aspectos principais dessa pandemia é “a importância de se dizer a verdade” e diz: “Ficará claro quem fez isso ou não, à medida que as pesquisas avançam. (…) Não tenho simpatia pelas pessoas que continuam escondendo os fatos. Acho que o público pode lidar com más notícias e um nível de incerteza”.

Apesar da ansiedade que o coronavírus tem causado, o pesquisador avalia que “estamos em uma posição muito melhor contra do que em 1918”, quando eclodiu a pandemia de gripe espanhola. E começa a listar tudo o que foi alcançado desde que o surto de coronavírus começou a ser estudado: a sequência de RNA do vírus foi identificada, sabemos como detectá-lo (o que permite um diagnóstico preciso da doença), conseguimos medir anticorpos e estamos desenvolvendo tratamentos “e talvez uma vacina”.

Algo positivo, reflete o acadêmico, é que a partir de agora as pessoas saberão como é importante reagir rapidamente à ameaça de outra epidemia, não apenas no que diz respeito à detecção de casos, mas ao isolamento. Por fim, o cientista diz que não está totalmente pessimista. No momento, as possibilidades variam desde a pandemia desaparecer sem causar mais danos a uma perspectiva catastrófica na qual o vírus desenvolveria uma maior capacidade de infectar pessoas. E ele repete: “Para ser sincero, realmente não sei como isso vai acabar”.


Fonte: BBC News Mundo
Translate »