Uma das maiores conquistas democráticas é o direito à liberdade de expressão. Lembrando uma clássica frase, erroneamente atribuída a Voltaire, “eu discordo do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Isso significa que, liberdade de expressão é, sobretudo, ser tolerante para ouvir aquilo com o que não se concorda. Paralelo à liberdade de expressão, tem-se a liberdade de informação, que corresponde ao direito de todo indivíduo em ter acesso à ampla gama de posicionamentos ideológicos presentes na sociedade.
Recentemente, a retirada do ar de um discurso de Donald Trump, feita por três órgãos de imprensa estadunidenses, nos fornece um exemplo emblemático sobre as questões apresentadas acima. Segundo as emissoras responsáveis por esta atitude, o presidente dos EUA estaria disseminando mentiras (alegação de fraude no processo eleitoral). No entanto, o que se pôde constatar foi uma prática explícita de censura (não há outra nomenclatura a ser utilizada). Como qualquer cidadão, Trump deve ter o amplo direito de se expressar e ser ouvido. A imprensa não é uma espécie de tribunal que possui a prerrogativa de decidir o que deve ou não ser do conhecimento da população. Cabe a outras instâncias sociais investigarem se as denúncias de Trump procedem.
Basear-se no pressuposto de que as acusações de Trump são infundadas, simplesmente porque ele seria um histórico divulgador de fake news, nos remete aos tribunais britânicos medievais, que julgavam determinados casos, não a partir dos argumentos apresentados por acusação e defesa, mas levando em conta a respeitabilidade social das pessoas envolvidas no processo.
Ultimamente, muito se tem comentado sobre as tentativas do poder público em cercear o trabalho dos profissionais de comunicação. Isso não vale quando a imprensa interrompe um pronunciamento presidencial? Além do mais, esse caso abre um precedente muito perigoso: se quem ocupa o cargo de “homem mais poderoso do planeta” é sumariamente censurado, o que acontecerá com o direito a fala de movimentos sociais e partidos políticos que denunciam as desigualdades sociais e o racismo, entre outras mazelas?” A esquerda, que tem vibrado a cada infortúnio de Trump, deveria refletir: “Hoje é o presidente dos EUA, amanhã seremos nós”.
Em pleno século XXI, negar a alguém o direito a expressão, ou julgar de antemão que uma acusação é falsa baseado na credibilidade pessoal, são graves retrocessos civilizacionais que devem ser denunciados e combatidos.
Fonte: O Tempo Opinião


