Anderson Cordeiro, friburguense, 34 anos, é doutorando pela UFRJ, integrante o Laboratório Cores, responsável pela identificação de notícias falsas em redes sociais. Suas credenciais dispensam apresentações.
Em 2016, Anderson criou o Fakepedia, primeiro site friburguense de checagem de notícias que conta, atualmente, com 213 colaboradores espalhados por todo o país. Com o início da campanha eleitoral, o site será importante ferramenta no combate às notícias falsas e é sobre isso que o Caderno Z vai tratar nesta conversa.
AVS: Como surgiu a o Fakepedia?
É um projeto da minha tese de doutorado. Começamos a trabalhar com notícias falsas em 2016, e foi nessa época que se popularizou. Num primeiro momento trabalhamos com notícias internacionais e pensamos em uma forma de trabalhar com conteúdo nacional, muito em função das eleições de 2018. Esse é um problema social e não computacional. Só se combate fake news armando as pessoas com informações.
Como a pandemia contribuiu para o aumento de notícias falsas?
Por ser um assunto delicado e abrangente, vimos a necessidade de ter um especialista, que funciona como um juiz e ajuda a autenticar a veracidade da informação. Temos uma especialista da Fiocruz, que se tornou nossa parceira.
A que devemos a popularização das fake news?
Às eleições presidenciais dos EUA, de 2016. É um termo extremamente político. A gente trabalha com algo que chamamos de desordem informacional e temos alguns grupos. Por exemplo: desinformação é o mais próximo das fake news, criado para prejudicar, fora de contexto, sátira ou uma notícia incompleta; falta de informação é algo que foi compartilhado por alguém sem intenção fazer mal; e a informação mal intencionada, que é uma informação verdadeira, mas particular, que só se tornou pública para causar danos a alguém.
Tem exemplos de fake news friburguenses?
Aqui é muito comum a desinformação e informação mal intencionada, que é trazer a vida privada para o discurso político. É a questão de passar a notícia como se fosse um furo de reportagem, mas na verdade não é. Isso é estratégia para aumentar a popularidade, clique. Na última semana, por exemplo, uma página de notícias usou algo fora de contexto. Uma notícia que falava de Vargem Grande e quem é de Friburgo acha que é notícia local, mas na verdade é de outro município. Isso é uma notícia fora de contexto.
Como é o trabalho de checagem?
A figura dos especialistas, principalmente do jornalista, é imprescindível. Se é uma fake news sobre alguém, o nosso trabalho é checar diretamente com essa pessoa. É ir direto às fontes para saber se aquilo é realmente verdade.
Como o leitor pode identificar uma notícia falsa?
Comprovadamente, as notícias falsas têm maior alcance, são mais populares do que as verdadeiras. Pesquisar sobre essa notícia em outros veículos para saber se os principais meios de comunicação estão dando essa informação. É preciso verificar a fonte, ver se a notícia vem de um veículo confiável. Muitas notícias falsas têm: erros de português, de formatação e uso exagerado de pontuação. Verifique a data – às vezes é uma notícia antiga trazida fora de contexto –, importante saber quem é o autor daquela notícia. Tem que ler a notícia toda. Tem gente que só lê o título. Verificar se aquela notícia é alarmante, as notícias falsas são feitas para chocar, para despertar algum tipo de sentimento.
As chamadas bolhas contribuem para a propagação das fake news?
As bolhas diminuem a capacidade de checagem. Uma notícia que circula em um determinado grupo que é favorável a alguma coisa, não circula em outra bolha que provavelmente questionaria essa informação. Tudo isso foi um prato cheio para a popularização das fake news no Brasil.
Quando há um erro em uma determinada notícia, isso é fake news?
É um erro. A diferença de um jornal sério para uma página de notícias que não tem jornalista, é que quando há um erro, o jornal se retrata. Quando não se tem esses princípios uma notícia errada causa danos, como as fake news.
Preocupa a popularização do termo?
Preocupa, porque você acaba colocando tudo na mesma sacola. Um jornal que erra e uma pessoa que criou um conteúdo para prejudicar alguém não estão no mesmo lugar, não é tudo fake news.
A notícia falsa sobre a represa que teria estourado na tragédia de 2011 seria a mais famosa da cidade?
Se fosse para identificar uma notícia falsa que representa a cidade, seria essa. Foi algo totalmente produzido e contaminou as pessoas. Sentimos na pele como as fake news são poderosas.
Estão preparados para estas eleições?
A gente acredita que muitas notícias falsas vão circular no município e Friburgo vai ser o nosso estudo de caso. Nós vamos analisar as redes, os grupos de notícias, postagens de candidatos. Vamos criar uma instância no site para informações que possam ser contestadas.
As fake news podem decidir os rumos de uma eleição?
Não só podem como já decidiram. Gosto de citar a campanha do Trump que foi tomada por fake news, como as que envolveram Hillary Clinton e pedofilia, amplamente divulgadas nas redes sociais. Com o Obama, as redes sociais foram usadas de forma correta, como ferramenta para pedir voto e angariar patrocinadores. O Trump veio de forma antidemocrática, pedindo para não votarem em sua opositora. O guru da campanha do Trump veio para o Brasil e implementou as mesmas ideias. Hoje, nós temos o chamado Gabinete do Ódio, alvo de CPI e o uso de robôs para espalhar notícias falsas.
Fonte: A Voz da Serra


