Festival Novo Mundo: combate às fake news não é censura à liberdade de expressão

15 de julho de 2020

As fake news foram o principal tema discutido no quarto e último dia do Festival Novo Mundo – versão online do Welcome Tomorrow, maior congresso de mobilidade e tecnologia do Brasil. Com apresentação de Flavio Tavares, criador do evento, a programação se dividiu em dois blocos: um das 10h às 12h30 e outro das 17h às 19h30.

O primeiro painel do dia tratou da “infodemia” da desinformação, com uma palestra do advogado e economista Renato Opice Blum. Ele abordou algumas das estratégias jurídicas que vêm sendo tomadas no Brasil para combater as notícias falsas, tais como a projeto que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, também chamado de lei de combate às fake news, aprovada no Senado no último dia 30 e atualmente na Câmara dos Deputados.

Blum defende a criação da lei e endossa que criadores e disseminadores de fake news que o fazem de propósito precisam ser punidos, de forma a coibir o mesmo comportamento em outros cidadãos. “A lei sempre vai ser imperfeita e sempre vai estar sujeita a um aprimoramento. Mas, ao contrário do que muitos falam, ela não vai ter impacto na liberdade de expressão [dos cidadãos brasileiros], pelo contrário: você vai poder se expressar melhor, porque as notícias são mais verdadeiras quando você tem um estímulo à liberdade de expressão, e não um receio”.

Ele afirma, ainda, que há muita fake news ao redor do próprio PL. Para rebatê-las, ele indica o que chama de true news: ler o texto original do projeto.

Todo dia é primeiro de abril?
Na sequência, as fake news foram discutidas por Natalia Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa; Alana Rizzo, cofundadora do Redes Cordiais; e Caio Blinder, jornalista e palestrante.

Rizzo apontou que a desinformação se alimenta principalmente de duas emoções: a raiva e a repulsa. A tendência humana é querer compartilhar esses sentimentos com quem é próximo, alavancando o potencial das fake news. Ela pontua que a responsabilidade para coibir esse problema deve ser compartilhada entre três atores da sociedade: o governo, as plataformas de redes sociais e os cidadãos.

“Esse é um momento de muita ansiedade, em que as pessoas estão buscando respostas, e às vezes a desinformação te pega. Por isso, a gente precisa refletir sobre o nosso papel no combate à desinformação”, relata. Nessa conjuntura, ela aponta que é importante entender o papel do jornalismo. “A notícia dá o contexto da informação. As redes sociais dão apenas um fragmento dela, muitas vezes sob a opinião de alguém. Isso é muito diferente da notícia apurada com diferentes fontes”, ela endossa.

Leal concorda e afirma que existe uma confusão entre fake news e jornalismo com um viés mais contundente. “Um veículo que se posiciona e defende um ponto de vista ainda é jornalismo. Se ele é feito com transparência e sob uma base ética, com fatos, ainda é jornalismo. Não é porque me desagrada que eu devo tratar como fake news, as duas coisas não estão no mesmo patamar”, defende. Segundo ela, o jornalismo contribui para fortalecer a democracia e é um grande problema caso a sociedade não reconheça seu valor.

Já Blinder esclarece que as fake news são um atalho em dois sentidos. Primeiro, elas são mais fáceis de serem produzidas, e não demandam toda a apuração que o jornalismo exige. Segundo, elas reforçam as crenças de cada indivíduo, que ficam em bolhas ideológicas ao não serem confrontados com opiniões contrárias. “Em uma época com tantas narrativas, nós vivemos num monólogo”, pontua o jornalista.


Fonte: Gazeta do Povo
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