Gargarejar com água morna evita que o coronavírus vá para os pulmões. Irmãos morrem depois de receberem vacina contra covid-19. Essas são apenas duas das mais de 7 mil notícias falsas sobre o tema que circularam em milhares de grupos de mensagens, caixas de e-mail ou em conversas nos almoços de domingo das famílias brasileiras.
Os dados sobre fake news são da IFCN (International Fact-Checking Network, ou Rede Internacional de Verificação de Fatos, em tradução livre), que reuniu cerca de 80 veículos em mais de 70 países para atuarem juntos na verificação de notícias falsas. A situação é tão grave que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem tratado o problema como uma “infodemia”, uma epidemia de desinformação.
O termo fake news entrou de vez no dicionário do mundo todo, não importa a língua. Uma rápida pesquisa em buscadores como o Google aponta mais de 500 milhões de resultados que tanto apontam notícias falsas que circulam no cotidiano quanto possíveis formas de identificar tais boatos.
Gigantes da tecnologia como Facebook e Google afirmam trabalhar constantemente para evitar a propagação das fake news. Hoje, já há o que se chama de “inibição de uso fraudulento das mídias sociais”. Na prática, são ferramentas que atuam na remoção de contas falsas ou geridas por robôs, além do uso de algoritmos que permitem aos usuários verificar o passo a passo da disseminação de informações desde as origens.
A estratégia precisa estar aliada, no entanto, a um esforço para prevenir o problema. E, nesse ponto, os especialistas afirmam que é imprescindível investir na formação de pessoas capazes de driblar essas armadilhas do digital.
Necessário para todos
Coordenador do grupo Jornalismo, Direito e Liberdade na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Vitor Blotta defende o incremento dos currículos das instituições de ensino com propostas que discutam as fake news. Isso de forma ampla, não apenas para estudantes de Comunicação. “Precisamos incluir disciplinas e mesmo cursos sobre literacia midiática e digital, bem como sobre comunicação científica. Elas analisam as dificuldades da difusão de conhecimento para públicos amplos e criam métodos confiáveis de comunicação e informação sobre as áreas do conhecimento”, afirma Blotta.
Os profissionais devem estar aptos a exercer técnicas como apuração, verificação, checagem de fontes e confirmação de dados. Todos também devem ser motivados a ter um pensamento crítico, tanto para identificar como para não disseminar fake news e prestar atenção em quem produz as informações e que interesses há por trás das divulgações.
“Vale também aprender a ética jornalística de somente publicar ou compartilhar quando se tem certeza da veracidade do conteúdo, e também de suas possíveis consequências. Como as ‘pessoas comuns’ têm hoje também ‘poder de mídia’, algumas das potencialidades e responsabilidades que antes eram do jornalismo foram transferidas a elas.”
Ações concretas
No Brasil, grupos como Agência Lupa e Aos Fatos desenvolvem a técnica de fact-checking, na qual conferem a veracidade de notícias de fontes duvidosas disseminadas na internet. Afirmações feitas por personalidades, temas de interesse público ou assuntos que tenham tido grande repercussão são prioritários nas checagens que são submetidas a especialistas. Eles analisam os dados históricos, estatísticos, comparações e afirmações sobre a legalidade de um fato.
Pelo mundo, a iniciativa The Trust Project envolve um conglomerado de 200 organizações cujo trabalho de análise é orientado por indicadores como o histórico de quem produz uma notícia, os propósitos, tipos de fontes consultadas e os métodos utilizados na produção da informação.
Algumas plataformas têm estratégias inusitadas para explicar as características de fake news. No site Bad News, o usuário assume o papel de um editor fictício que deve deixar de lado qualquer senso de ética em nome de aumentar sua audiência. O site tem inclusive uma versão para crianças e adolescentes, o Bad News Jr. O objetivo é que as futuras gerações tenham desde cedo a possibilidade de se vacinar contra as armadilhas que atualmente vitimam seus pais.
Nas duas versões do game, os jogadores vencem ao mostrar que sabem agir como um bom editor de fake news, ou seja, que se propõem muito mais a seduzir do que a informar a audiência.
Fonte: Terra Educação


