O termo fake news tem ganhado a cada dia mais destaque na imprensa e espaço nas redes sociais, principalmente em grupos como whatsapp. As notícias falsas, passadas como algo concreto, não estão apenas em âmbito geral de política, religião, ciência e outras áreas como se costuma ver. As fake news podem estar mais perto do que imaginamos e atingir pessoas próximas.
O delegado Higor Vinicius Nogueira Jorge, de Santa Fé do Sul (foto), é membro da Associação Internacional de Informática Forense (ASIIF), da Associação Internacional de Investigação de Crimes de Alta Tecnologia (Htcia) e da Associação Internacional da Polícia (Ipa – Brasil), professor de inteligência cibernética do Ministério da Justiça, professor da pós-graduação em Direito Digital e Compliance do Damásio Educacional.
Ele falou, com a reportagem da Folha da Região, sobre alguns dos casos mais comuns vistos no âmbito regional que atingem diretamente as pessoas. Higor Jorge destacou que as fake news não são apenas relacionadas a notícias de âmbito nacional. Segundo ele, em muitos casos, a pessoa que quer disseminar uma informação falsa, cria um perfil falso também, para espalhar algo com o objetivo de atingir alguém. Ele diz que, mesmo criando perfis falsos, hoje a tecnologia permite meios para se chegar facilmente aos autores.
O delegado conta que tem sido muito comum casos em que as pessoas inventam histórias que atingem a reputação de terceiros. “Temos muitos casos de crimes em que uma das partes inventa uma história e atinge a reputação de outra. Esses autores geralmente praticam crimes contra a honra, em especial, calúnia difamação e injúria”, explicou.
Especialista na área, o delegado alerta que a maioria dos perfis falsos tiveram a autoria identificada. Os autores foram localizados e responsabilizados criminalmente. O crime de injúria, que consiste em atribuir palavras ou qualidades negativas à uma pessoa, tem pena que varia de um a seis meses de detenção.
Para a difamação, que é a atribuição de um fato negativo que não seja considerado crime, a pena é de três meses a um ano de prisão mais multa, e para a calúnia, que é a atribuição falsa a um crime não cometido, a pena varia de seis meses a dois anos, mais multa. No entanto, além da esfera criminal, os autores podem ser processados na esfera cível.
GRUPOS FAMILIARES
Pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, descobriu o principal meio através do qual as fake news costumam circular e se disseminar, e o resultado pode ser espantoso: os grupos de família do WhatsApp. O caso no qual a pesquisa realizada se baseou foi o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Através de um questionário respondido por mais de 2,5 mil pessoas, mais da metade confirmou que recebeu os mais populares e mentirosos boatos sobre o caso, em grupos de família no WhatsApp.
Por se tratar de um aplicativo muito popular, privado e sem nenhum caráter público, o WhatsApp é um dos principais meios de disseminação das chamadas fake news. Segundo a pesquisa, além 51% receberam as notícias falsas pelos grupos familiares, 32% em grupos de amigos, 9% em grupos de trabalho e 8% em mensagens diretas. Os dados podem se dar pelo fato de existirem mais grupos de família entre os usuários do app, mas também podem indicar que, em um espaço mais íntimo, as pessoas se sentem mais à vontade para disseminar conteúdos especulativos e sem qualquer comprovação de veracidade sem medo de serem julgadas.
CASO FELIPE NETO
O influenciador digital Felipe Neto tem sido vítima de acusações falsas e de ameaças nas redes sociais. Nesta quarta-feira (29), esses ataques foram parar na porta da casa dele. Felipe Neto estava em casa quando o carro de som parou na entrada do condomínio onde ele mora, no Rio.
O homem que gritava no microfone se identifica nas redes sociais como Cavallieri, o guerreiro de Bolsonaro: “Chega, chega! Cadê você, Felipe Neto?”. Um outro homem, que gravou com o celular, faz questão de aparecer. “Eu boto a cara, eu boto a cara junto”, diz. Nesta quinta (30), Felipe falou das agressões na frente da casa dele.
“Virem atrás de mim, dentro da minha casa, é um nível de perseguição que eu não imaginei que aconteceria. Sabe aquele vilão de novela, que você fala assim: não existe na vida real? Mas existe. Ele está aí, ele acontece. E eu estou vendo agora na prática até onde as pessoas são capazes de ir”, afirmou.
Felipe Neto é um dos maiores influenciadores digitais do país; tem 63 milhões de seguidores em redes sociais. Ganhou fama com vídeos de humor, muitas vezes com críticas ácidas a personagens e situações comuns aos jovens. Nos últimos anos, passou a falar também de política, com críticas frequentes ao PT durante o governo Dilma Rousseff. Desde a eleição, o influenciador também tem criticado duramente o presidente Jair Bolsonaro.
Uma montagem falsificou o perfil dele em uma rede social, com uma mensagem que ele nunca escreveu, fazendo apologia à pedofilia. Na semana passada, o Fato ou Fake do G1 checou a autenticidade da mensagem e constatou que ela é falsa, mas a postagem provocou prejuízo à imagem de Felipe. Em um levantamento feito pela equipe dele, nos sites de busca, o nome dele já aparece ligado à palavra pedófilo.
“Eu nunca imaginei que fosse passar por isso, eu nunca dei qualquer margem ou qualquer suspeita, ou levantei qualquer tipo de insinuação que pudesse levar qualquer pessoa a me associar com esse crime tão perverso, tão odioso…”.
Felipe Neto reforçou a segurança dele e da família alguns meses atrás, quando os ataques pela internet ficaram mais pesados e mais constantes. Ele tem também a ajuda de especialistas em tecnologia que rastreiam e registram essas ameaças e depois enviam tudo para a polícia. O influenciador contratou ainda uma equipe de advogados para processar os responsáveis pelas fake news.
Fonte: Folha da Região


