20.05.2020 – Notícias classificadas como Fake News

21 de Maio de 2020

Levando em consideração o Portal do Ministério da Saúde e os dois maiores portais brasileiros em acessos, Portal Globo.com e Portal UOL, 8 fake news foram esclarecidas, 3 realizadas pelo Portal Globo.com e 1 pelo Portal UOL no dia 20 de Maio. São elas:

(1) É #FAKE que vídeo mostre profissionais de saúde dando as costas ao prefeito Bruno Covas em SP
O vídeo que mostra profissionais da saúde em frente a um hospital virando de costas para veículos oficiais que entram no prédio em protesto foi feito em Bruxelas, capital da Bélgica, e registrado pelo programa de TV belga “La Une” no sábado (16). Na ocasião, os profissionais da saúde protestaram contra a presença da primeira-ministra belga, Sophie Wilmès, no hospital Saint-Pierre. O motivo foi o descontentamento com os decretos do governo que possibilitaram o recrutamento obrigatório de enfermeiros caso necessário. Eles também se manifestaram a favor de melhores condições de trabalho e salário. A Bélgica tem uma das maiores taxas de mortes por milhão de habitantes em decorrência da Covid-19 no mundo.

(2) É #FAKE que vídeo mostre equipe médica forjando caso de Covid-19 em São Paulo
O vídeo com um homem, vestido de preto, esperando em pé a preparação feita por agentes de saúde de uma maca com tela de isolamento e, quando pronta, se deita e é colocado dentro de uma ambulância foi, na verdade, publicado por veículos jornalísticos mexicanos nos dias 9 e 10 de maio. Segundo as publicações, o homem que aparece no vídeo é um trabalhador da zona comercial de Tuxpan, no estado de Veracruz, no México, que estava com suspeita de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. As imagens registram o momento em que a equipe de saúde municipal realiza seu transporte para um hospital municipal, a fim de isolá-lo. Com a versão ampliada do vídeo, é possível identificar uma praça atrás da ambulância e uma loja de esquina. Com a visualização por satélite no Google Maps, as mesmas praça e loja aparecem no Parque Reforma, em Tuxpan. O próprio presidente municipal (o equivalente a prefeito da cidade) fez um post nas redes sociais parabenizando os envolvidos na ação: “Após várias horas de espera, a equipe municipal de saúde teve que colocar tudo em primeiro lugar para salvaguardar a vida de um ser humano. Talvez alguns critiquem, mas é melhor fazê-lo do que não”.

(3) É #FAKE que fotos e vídeos mostrem produtos mofados em shopping de São Paulo durante a quarentena
As imagens e vídeos de produtos, como roupas, bolsas e sapatos de couro, mofados em uma loja são, na verdade, de uma loja de departamentos na Malásia. A loja se chama Metrojaya e fez um comunicado nas redes sociais sobre o assunto. O estabelecimento informa que o problema ocorreu depois do fechamento da unidade, no dia 18 de março. Mas o texto não atribui o estrago ao sistema de ar-condicionado. No mesmo dia, foram divulgadas pela loja fotos da limpeza das prateleiras e da substituição dos produtos inutilizados. A loja voltou a funcionar no último dia 13. Sobre as imagens dos produtos mofados, o pneumologista José Rodrigues Pereira, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que o ar-condicionado baixa a umidade do ar e seu desligamento pode mesmo provocar o surgimento de bolor em materiais biológicos, como o couro. A temperatura mais alta também facilita a proliferação do fungo, assim como a falta de ventilação. Pereira ainda alerta que a exposição a esses produtos mofados é prejudicial à saúde, especialmente quando a pessoa tem quadros alérgicos ou asma, podendo levar a crises.

No Brasil, todos os shoppings ficaram fechados a partir do dia 26 de março – medida tomada pelos governos para reduzir aglomerações e frear a propagação do coronavírus. No momento, a situação difere de estado para estado. Desde abril, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), 89 shoppings já reabriram em 53 cidades de dez estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. No estado do Rio de Janeiro, desde 27 de abril o movimento foi retomado em cinco shoppings, todos, porém, fora da capital. Em todo o estado de São Paulo as atividades continuam suspensas.

(4) É falso que autópsias em vítimas de covid apontaram outras causas de morte
O texto publicado pelo site Oriundi.net é a tradução de um texto em italiano assinado por Cesare Sacchetti em blog pessoal. Com base em declarações de um médico chamado Giampaolo Palma em post no Facebook, o texto expõe a teoria de que a covid-19 mata em razão da “microtrombose venosa” no organismo — obstrução de veias por pequenos coágulos que se formam em resposta à infecção — e que só depois o vírus agrediria os pulmões. Por esse ponto de vista, tanto o diagnóstico quanto o tratamento da doença estariam errados. O autor afirma que “a comunidade médico-científica” chegou a essas conclusões após serem realizadas 50 autópsias no Hospital Papa Giovanni XXIII, em Bérgamo, e 20 no Hospital Luigi Sacco, em Milão.

Esse não é o entendimento dos órgãos de saúde até o momento. Apesar de existirem resultados promissores em pesquisas com anticoagulantes no tratamento de pacientes com covid-19, ainda não é possível dizer que essa é a “cura”, como aponta o texto, nem que os pacientes podem ser tratados em casa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde afirmam que ainda não há medicamento com eficácia comprovada para tratamento ou prevenção da doença. Pacientes com sintomas graves devem receber suporte médico em hospitais. O próprio diretor do departamento de anatomia patológica do Papa Giovanni XXIII, Andrea Gianatti, responsável pelas autópsias no hospital de Bérgamo, afirma que esse tipo de terapia “parece absolutamente útil” como complemento a outras, mas é cauteloso ao analisar os resultados. Ele também contrapõe o argumento presente no texto de que “o coronavírus não ataca os pulmões primeiro, mas afeta principalmente os vasos sanguíneos, impedindo o fluxo regular de sangue” e de que bastaria resolver o problema para prevenir a letalidade. Ao Corriere della Sera, o patologista relatou que a trombose nos pacientes analisados “geralmente ocorreu após a fase mais aguda da pneumonia, isto é, depois dos sintomas mais típicos causados pelo coronavírus”. Ou seja, mesmo quando a anomalia está presente, os pacientes ainda precisam de outros cuidados, considerando que a trombose não é a única complicação possível da doença.

Para a pneumologista do Hospital Sírio-Libanês e livre docente da Universidade de São Paulo (USP) Elnara Marcia Negri, a formação descontrolada de coágulos que podem obstruir as veias e levar à morte está associada a uma “tempestade inflamatória” no organismo, causada após a entrada do vírus pelo sistema respiratório e a sua agressão a estruturas dos pulmões. A médica afirma que, em alguns casos, a causa da morte realmente é a insuficiência respiratória em razão da trombose, mas esta não é a única causa, nem a principal. Pedro Silvio Farsky, cardiologista do Hospital Albert Einstein e do Instituto Dante Pazzanese, relata o mesmo mecanismo de ação. Quanto à hipótese de que a incidência de trombose nos pacientes seria anterior a complicações como a pneumonia — e que resolvê-la “curaria” os pacientes — ele considera a teoria ainda “pouco provável”. “Não me parece lógico, especialmente porque vemos alterações radiológicas acometendo o pulmão sem que tenha aumento no dímero D (resultado da degradação de fibrina, um marcador de trombose)”. O Comprova também entrou em contato, por e-mail, com Andrea Gianatti, do Papa Giovanni XXIII. Gianatti respondeu que eram “apenas boatos” e que as informações corretas constam em relatório preliminar (preprint) que está sendo revisado para publicação na revista Lancet.

A seguir, uma série de informações duvidosas presentes no texto são exclarecidas:
(a) Qual a relação da covid-19 com a trombose?
Uma das possibilidades levantadas é de que, para entrar no corpo humano, o novo coronavírus utiliza receptores chamados de ACE2, que geralmente são encontrados no endotélio, espécie de tecido que reveste vasos sanguíneos e a parte interna do coração que influencia o controle da coagulação no sangue. Outra teoria afirma que o aumento da coagulação pode ser resultado de uma resposta inflamatória excessiva do organismo à infecção. Ela ocorreria a partir de uma “tempestade de citocinas”, proteínas conhecidas por enviarem mensagens às células e modularem o ataque organizado pelo sistema imunológico ao vírus.

(b) Autópsias de Bérgamo
O Comprova encontrou dois artigos científicos com resultados de autópsias nos hospitais Papa Giovanni XXIII, de Bérgamo, e Luigi Sacco, de Milão. O primeiro foi publicado em 22 de abril na plataforma medRxiv (sem revisão por pares) e apresenta relatório de 38 casos. O segundo é de 6 de maio e foi baseado na análise de 35 pessoas que morreram no Papa Giovanni XXIII — é este que está com revisão pendente para publicação na Lancet. A primeira pesquisa mostra que 33 vítimas (86%) nesses dois hospitais apresentaram coágulos em pequenos vasos sanguíneos nos pulmões, o que poderia explicar a falta de oxigênio no sangue dos pacientes. “Nossos dados apoiam fortemente a hipótese proposta por estudos clínicos recentes de que a covid-19 é complicada ou está, de alguma forma, estritamente relacionada com coagulopatia (distúrbios na coagulação) e trombose”, escrevem os pesquisadores. “Por essas razões, o uso de anticoagulantes foi recentemente sugerido como potencialmente benéfico para pacientes em quadros graves, ainda que a eficácia e segurança ainda não esteja demonstrada.”

Já o segundo artigo aponta que foram feitas 75 autópsias em pacientes com covid-19 no Papa Giovanni XXIII entre 19 de março e 9 de abril. Foram considerados 35 análises para o estudo. Destes, 10 (29%) foram diagnosticados com eventos tromboembólicos ainda no hospital durante o tratamento. Na autópsia, todos apresentavam tromboses em três ou mais órgãos, principalmente pulmões, coração, rins e fígado. O preprint destaca que esse problema pode ser ocasionado por diferentes processos patológicos, como a coagulação intravascular disseminada (CID), mas todas as hipóteses propostas foram descartadas com base no histórico hospitalar ou em testes posteriores. Os autores concluem que é difícil categorizar esses eventos trombóticos em doenças convencionais, mas que a condição pode estar sendo subestimada nos hospitais. No entanto, em nenhum momento, nos dois artigos, os pesquisadores afirmam que encontraram a “cura” da covid-19 ou que os resultados mostram que o perigo da doença não está mais presente. Tampouco apontam que os pacientes poderiam ser tratados em casa, sem a necessidade de internações, como defende o boato.

(c) Respiradores são inúteis?
Em outro trecho, o texto argumenta que o uso de respiradores artificiais é inútil e prejudicaria os pacientes, citando declarações do médico Cameron Kyle-Sidell, do Maimonides Medical Center, de Nova York. De fato, Kyle-Sidell afirmou, em vídeo no YouTube, que os ventiladores mecânicos poderiam “estar causando mais danos do que ajudando os pacientes de covid-19” e que acreditava estar “tratando a doença errada” nas unidades de tratamento intensivo. O texto omite, porém, que o médico declarou a seguir que não é possível abrir mão dos respiradores no suporte aos pacientes em estado crítico.

De acordo com reportagem da revista Time, existe um “debate acalorado” sobre a utilização de respiradores artificiais na comunidade médica, que está ligado a dados de eficiência do método. Enquanto para outras síndromes respiratórias graves a taxa de recuperação após esse tipo de suporte invasivo está em torno de 50%, estudos na China, em Nova York e no Reino Unido apontam que a covid-19 leva a óbito de 66% a 80% dos pacientes que passam pelo procedimento. Por outro lado, alguns especialistas acreditam que esses percentuais podem estar sendo afetados por outros fatores, como a pressão sobre as unidades hospitalares. A ventilação mecânica pode estar sendo utilizada muito cedo, quando outros métodos menos invasivos poderiam funcionar, ou os hospitais podem estar destinando profissionais menos treinados para a função diante do cenário caótico, por exemplo. Outro apontamento diz respeito aos grupos de risco da doença, como idosos, que tendem a reagir pior a esse tipo de procedimento.

(d) Vacinas aumentam o risco de infecção?
No final do texto, Sacchetti afirma que um “estudo científico do Pentágono relatou que as vacinas aumentam o risco de infecção por coronavírus em 36%” para dizer que não há mais necessidade de vacina contra o Sars-Cov-2 e que esta seria “potencialmente prejudicial”. O estudo citado foi realizado pelo setor de vigilância das Forças Armadas dos Estados Unidos e traz dados de 2017 e 2018. A tese é que a vacinação contra a influenza pode aumentar o risco de infecção por outros vírus respiratórios, em um processo chamado de “interferência viral”. Porém, não há consenso entre o meio científico, pois outras pesquisas indicaram que essa relação não existe. De qualquer forma, não é correto estender as conclusões para o Sars-Cov-2, a pesquisa envolveu outros tipos de coronavírus. Em resposta ao FactCheck.org, projeto do Centro de Políticas Públicas Annenberg da Universidade da Pensilvânia, o Sistema de Saúde Militar dos Estados Unidos declarou que estudo utiliza informações coletadas dois anos antes do surgimento da covid-19 e que a pesquisa “não mostra ou sugere que a vacinação contra a influenza predispõe, de qualquer maneira, o potencial para infecções por formas mais severas de coronavírus, como a covid-19”. Para a instituição, “continua sendo essencial que as pessoas obtenham a vacina sazonal contra a gripe a cada ano, assim que ela se torna disponível”.

As investigações sobre as formas de transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento, mas a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato, está ocorrendo. A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como:
– gotículas de saliva;
– espirro;
– tosse;
– catarro;
– contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão;
– contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

O Ministério da Saúde ainda orienta cuidados básicos diários para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o novo coronavírus. Entre as medidas estão:
– Lavar as mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos ou então higienize com álcool em gel 70%.
– Utilizar lenço descartável para higiene nasal.
– Cobrir nariz e boca ao tossir ou espirrar com COM O BRAÇO (e não com as mãos!) ou com um lenço de papel (e jogar no lixo).
– Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
– Higienizar as mãos após tossir ou espirrar.
– Não compartilhar objetos de uso pessoal (como talheres, toalhas, pratos e copos).
– Manter os ambientes bem ventilados.
– Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
– Evitar contato próximo com pessoas resfriadas ou que estejam com sintomas parecidos com os da gripe.
– Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas.
– Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.
– Evitar aglomerações.
– Ficar em casa quando estiver doente.


Fonte: Ministério da Saúde
Translate »