Levando em consideração o Portal do Ministério da Saúde e os dois maiores portais brasileiros em acessos, Portal Globo.com e Portal UOL, 4 fake news foram esclarecidas, 2 realizadas pelo Portal UOL e outras 2 pelo Portal Globo.com no dia 18 de agosto. São elas:
(1) Estudo não levou estados e municípios a deixarem de receitar cloroquina
São falsas as afirmações feitas pelo médico Wagner Malheiros em um vídeo postado no Facebook e republicado no YouTube em que ele atrela um estudo publicado pela revista científica The Lancet a mortes por covid-19. No vídeo, Malheiros destaca a publicação do fim de maio que, 11 dias depois, foi removida, para defender o uso da cloroquina no tratamento da covid-19. O médico argumenta que governos deixaram de receitar a droga por causa desse texto e isso teria causado mortes. Não há nenhuma comprovação de que governos estaduais ou prefeituras, no Brasil, tenham restringido o uso de cloroquina durante esse período. Além disso, não existe comprovação científica de que a cloroquina tenha eficácia contra o novo coronavírus.
No vídeo, Malheiros também cita um estudo publicado no início de julho pela instituição norte-americana Henry Ford Health System para defender a cloroquina. A pesquisa, como o Comprova já mostrou, é insuficiente para provar a eficácia da droga. Malheiros ainda acusa a Sociedade Brasileira de Infectologia de ter relações com o PT. A afirmação também não é verdadeira.
(2) É falso que a maioria das pessoas seja imune à covid
Segundo a postagem, a informação faz parte de “um dos melhores estudos sobre o covid-19”. A mensagem rebate a eficiência do isolamento social: “A política de ‘fechar tudo’ teria sido baseada em ciência falha, e as consequências danosas à sociedade serão sentidas por décadas”. Ainda incentiva a ler o “estudo de Karl Friston”, um neurocientista britânico.
O UOL ouviu a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, e o epidemiologista Fábio Mesquita, ex-diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, e ambos afirmam que não existe imunidade à covid-19 para a maioria das pessoas. Se já houvéssemos atingido esse patamar, a pandemia não atingiria todo o planeta, com crescentes números de casos e mortes.
“A pessoa só pode ser considerada imune quando está vacinada ou quando já teve a doença e seu sistema imunológico produziu uma resposta protetora”, afirma Natália. “Não chegamos e só chegaremos a esse momento de imunidade com uma vacina. Só assim vai chegar próximo ao normal de antes”, concorda Mesquita.
(3) É #FAKE que pesquisa da USP comprovou que pessoas confinadas são mais propensas a contrair o coronavírus
Uma mensagem que tem viralizado nas redes sociais diz que pessoas em confinamento são mais propensas a contrair a Covid-19 e que essa foi a conclusão de um estudo da Universidade de São Paulo (USP). Entretanto, a pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com tecnologia da empresa Omni-electronica, cujos dados divulgados foram divulgados neste mês, comprovou apenas a presença do coronavírus em suspensão no ar – o que já havia sido descoberto em estudos internacionais, e já é considerado pela Organização Mundial de Saúde como fato sobre a pandemia. Mas isso não quer dizer que fazer quarentena propicie que as pessoas sejam infectadas, conforme desmente a USP. A universidade explica que o estudo não foi voltado a pessoas em confinamento e, diante das mensagens com as informações distorcidas, reforça a necessidade de se evitar aglomerações para evitar a propagação do coronavírus.
Os pesquisadores identificaram que o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, pode ficar suspenso por horas em microgotículas que as pessoas contaminadas venham a soltar no ar na fala, na tosse ou no espirro. Isso reforça a necessidade de se manter ventilados os ambientes fechados, com o intuito de diminuir o risco de propagação do vírus. Com a falta de ventilação, o ar não é trocado, e as partículas seguem no ar. No entanto, isso não equivale a dizer que se isolar em casa é algo a ser evitado, diz comunicado da Omni-electronica. O texto esclarece que as conclusões estão sendo desvirtuadas nas redes sociais, e que o estudo “não avaliou o efeito de medidas de distanciamento e/ou isolamento social” e “não levou em conta fatores como a virulência do material amostrado ou carga viral necessária para infecção de indivíduo saudável”. O comunicado da empresa frisa que o trabalho “se limitou a evidenciar a presença de material viral suspenso no ar em ambientes interiores ocupados” e “correlacionar a quantidade de material viral amostrado com parâmetros físico-químicos da qualidade do ar, como temperatura, umidade relativa, concentração de dióxido de carbono, compostos orgânicos voláteis e material particulado suspenso”.
O texto informa ainda que “o único objetivo foi identificar formas que possam auxiliar uma retomada mais segura do trabalho presencial, por meio do monitoramento, em tempo real, da qualidade do ar”, e que os dados explicitaram que existe um maior risco de contaminação pelo novo coronavírus em ambientes fechados com baixos índices de qualidade do ar em que haja uma ou mais pessoas infectadas pelo vírus. A empresa lembra ainda que é preciso atentar, além da manutenção da qualidade do ar, para as medidas apregoadas pela Organização Mundial de Saúde, como evitar aglomerações, usar máscaras, e higienizar as mãos.
(4) É #FAKE que dados de cartórios provem que não houve 100 mil mortes por Covid-19 no Brasil
Com base no Portal da Transparência dos cartórios, a mensagem lista, mês a mês, o total de mortes registradas pelos cartórios no Brasil de fevereiro a julho de 2019 e de 2020. Ao final, soma os números e diz que, de fevereiro a julho de 2020, houve 65.885 óbitos a mais que no mesmo período de 2019. Esse número, portanto, não seria suficiente para se chegar à cifra de mais de 100 mil mortes que consta das estatísticas oficiais divulgadas pelas secretarias da Saúde e pelo Ministério da Saúde. A mensagem mostra dados reais dos cartórios. Mas a conclusão é falsa porque:
1. A mensagem não leva em conta que os cartórios ainda não contaram todas as mortes ocorridas em 2020 e talvez nem consigam contá-las – o registro de uma morte no sistema leva dias e muitas vezes nem é feito.
2. Omite que o próprio portal dos cartórios registra quase 90 mil mortes por Covid até julho
3. E distorce a comparação ao não levar em conta que as 100 mil mortes só foram atingidas em agosto
O portal da Transparência do Registro Civil foi criado em 2018 e é mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) com informações e dados estatísticos sobre nascimentos, casamentos e óbitos. Neste ano, em razão da pandemia, o portal criou uma seção com informações de mortes por Covid, onde é possível saber a quantidade de casos registrados em um determinado período. Segundo a Arpen, o registro de uma morte leva normalmente até 14 dias para ser incluído no Portal da Transparência. Durante a pandemia, no entanto, esse prazo foi ampliado para até 60 dias em algumas cidades e estados, como no Ceará. Além disso, os dados dos cartórios disponíveis no site não são fechados. Tanto os de 2020 quanto os de anos anteriores são atualizados pelos cartórios periodicamente. Ou seja, há uma defasagem em relação aos dados divulgados pelos governos estaduais. Isso significa que, se a diferença de mortes foi de 65 mil em algum momento, uma nova consulta no futuro pode indicar outra diferença.
Outra questão é o total de mortes por Covid. A mensagem que circula mostra apenas números do total de mortes por qualquer causa no Brasil, sem especificar quantas são por Covid. A mensagem omite, portanto, que o próprio portal dos cartórios registra, de março a julho deste ano, 89 mil mortes por Covid-19 – número também defasado, mas próximo do que é registrado pelas autoridades de saúde. Segundo dados do consórcio de imprensa a partir de números informados pelas secretarias estaduais, no fim de julho havia 92,5 mil mortes pelo novo coronavírus. Além disso, mesmo quando todos os registros de cartório forem incluídos no sistema, esse número deverá continuar inferior ao que as secretarias de Saúde têm. O motivo é a chamada “subnotificação”: muitas pessoas não registram a morte no cartório, especialmente as mais pobres e que vivem em cidades pequenas do interior, explica a epidemiologista Fátima Marinho.
Outro ponto falso da mensagem é a frase “A menos que tenham encontrado a cura para as demais doenças”.
1. Menos mortes por outras causas: o caso mais claro é o de acidentes de trânsito. A menor circulação de pessoas fez diminuir as mortes no trânsito. Dados do DPVAT mostram que, de março a junho, houve uma redução de 2.312 indenizações pagas do seguro obrigatório por mortes em acidentes de trânsito, por exemplo, o que indica uma redução dos óbitos. Além disso, segundo o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o isolamento social adotado por conta da pandemia fez diminuir a incidência de outras doenças e, consequentemente, o número de mortes causadas por elas. “O coronavírus continuou se espalhando porque é uma doença com uma taxa de transmissão muito alta. Existem outras doenças que são menos transmissíveis”, afirma ele. “Além disso, o vírus é um vírus novo. Estava todo mundo suscetível.”
2. Pessoas com doenças crônicas e idosos têm a vida abreviada pela Covid: segundo a epidemiologista Fátima Marinho, pacientes com doenças preexistentes viveriam mais se não tivessem contraído o coronavírus. “Muitas pessoas com doenças crônicas estão tendo antecipada a data de sua morte. Muitos poderiam viver 2, 5, 10, 15 anos ou mais dependendo da condição e do acesso ao cuidado em saúde”, diz Fátima. Uma pesquisa feita com dados da Itália, do Reino Unido, da Escócia e da Organização Mundial da Saúde estima que idosos poderiam viver uma década a mais, em média, se não tivessem contraído a Covid.
Comparação sem os dados de agosto
Há um outro detalhe no texto falso: o número citado na mensagem desconsidera as mortes ocorridas em agosto. A marca de 100 mil mortes foi atingida apenas no dia 8 deste mês, segundo os dados das secretarias estaduais da Saúde compilados pelo consórcio de veículos de imprensa. Só nesses oito dias, foram registradas 7,9 mil mortes. A mensagem, porém, só cita dados de cartórios até julho.
As investigações sobre as formas de transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento, mas a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato, está ocorrendo. A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como:
– gotículas de saliva;
– espirro;
– tosse;
– catarro;
– contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão;
– contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
O Ministério da Saúde ainda orienta cuidados básicos diários para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o novo coronavírus. Entre as medidas estão:
– Lavar as mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos ou então higienize com álcool em gel 70%.
– Utilizar lenço descartável para higiene nasal.
– Cobrir nariz e boca ao tossir ou espirrar com COM O BRAÇO (e não com as mãos!) ou com um lenço de papel (e jogar no lixo).
– Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
– Higienizar as mãos após tossir ou espirrar.
– Não compartilhar objetos de uso pessoal (como talheres, toalhas, pratos e copos).
– Manter os ambientes bem ventilados.
– Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
– Evitar contato próximo com pessoas resfriadas ou que estejam com sintomas parecidos com os da gripe.
– Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas.
– Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.
– Evitar aglomerações.
– Ficar em casa quando estiver doente.
Fonte: Ministério da Saúde


