O que esperar da ciência nesta pandemia?

9 de outubro de 2020

Gustavo Biasoli Alves
Grupo de trabalho Pesquisas Internacionais, Portal COVID19 “Informando para superar”

08 de Junho de 2020
Logo após o anúncio que uma pneumonia desconhecida estava fazendo as primeiras vítimas na China um alerta foi lançado para a comunidade científica: o que estava acontecendo e quais suas consequências?
Inicialmente se buscou isolar casos e vírus e compreender os efeitos nos organismos dos primeiros seres humanos infectados, bem como o de procurar medicamentos e tratamentos no arsenal científico já
conhecido. O segundo passo foi alertar as autoridades mundiais de saúde e definir protocolos de enfrentamento em escala nacional e posteriormente global.

A existência de uma pandemia é algo impactante na história da humanidade e se chega a dizer que mudanças radicais na história ocorrem exclusivamente por causa delas, de hecatombes naturais, de guerras ou de
revoluções. O fenômeno merece assim uma análise criteriosa que envolva todos os campos do conhecimento e a compreensão do fenômeno enquanto ele está em curso requer que se sistematize o conhecimento já existente sobre pandemias, que se tenha ferramentas precisas para compreender o presente e que se veja o que está sendo projetado para o futuro.

Nesta coluna específica do projeto XXXX nos propusemos a olhar o que as pesquisas científicas tem dito sobre a COVID-19 e a publicar material qualificado de diversas fontes que possam referenciar o leitor e o agente público na compreensão de como o fenômeno está se desenhando, o que se está prevendo como cura e enfrentamento e quais as possíveis consequências sobre os pontos de vista econômico, político, sanitário, social e tecnológico.

O leitor encontrará análises e projeções feitas por nossa equipe de especialistas sobre cada um destes aspectos. Trabalhamos diuturnamente na seleção de fontes primárias e secundárias que nos fornecessem informações confiáveis as quais disponibilizamos na página do projeto e que passamos a comentar a seguir.

Com relação aos aspectos sociais e econômicos é interessante a análise feita por Robertson, Carter, Chou et ali (2020) publicada na revista Lancet que poderá ser acessada através do link:
https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/artigo-traz-modelagem-de-perdas-dos-mais-pobres/ onde estes autores usam de modelagem estatística precisa para prever os impactos para os mais pobres. Num cenário otimista os autores apontam que 253.000 crianças e 12.000 mães morreram por causas adjacentes à COVID-19 tais como a queda da qualidade nos serviços de saúde, dificuldades no acesso a água e alimentos.

Numa perspectiva pessimista o cenário seria de cinco a seis vezes pior. Ainda que se esteja falando de modelos e projeções a previsão estatística deve ser levada em conta por sua acurácia e a previsão não parece de difícil confirmação na medida que análises do Fundo Monetário Internacional dão conta que a economia mundial deve retrair cerca de 4% em 2020 e que países importantes, como os Estados Unidos e a China experimentarão quedas em seus produtos internos brutos que não foram vistas desde as primeiras décadas do século XX.

Esta situação aponta que a proteção social deverá ser vista como um quesito fundamental de qualquer política pós-pandemia. O mesmo deve ser apontado para a necessidade de aprimorar a capacidade técnica dos testes e a capacidade regional de produção de testes e de insumos de saúde. A correta testagem da população e o número de testes realizados a cada um milhão de habitantes são fatores fundamentais para que se saiba o impacto real de qualquer pandemia. No texto O Covid e a Curva os detalhes são exlicitados: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/ocovid-19-e-a-curva/

Corroborando as análises aí feitas, se observa que as universidades tem procurado traçar curvas de contágio e acompanhar o desenvolvimento da doença. O melhor exemplo que se tem disso é o que a  universidade Johns Hopkins tem feito: https://coronavirus.jhu.edu/map.html, mas temos também bons exemplos locais: https://covid.sh.utfpr.edu.br/wp-content/uploads/2020/04/Painel-de-Dados-sobre-Coronav%C3%ADrus-Rev01.pdf ou: https://covid.sh.utfpr.edu.br/ e: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/ufpr-e-ufrn-criam-mapa-decalor-do-coronavirus/. É importante marcar que o
entendimento da realidade local é um ponto de muito destaque, pois, como apontado pela Fundação Osvaldo Cruz, a pandemia terá realidades muito díspares em todo o território nacional, o que forçará a adoção de medidas diferentes.

Uma outra linha de ação é a busca por fármacos e tratamentos eficazes. Neste ponto já é possível identificar que dois antimaláricos promissores em teste in vitro foram descartados: a cloroquina e a hidroxicloroquina não apresentaram resultados promissores até o momento. O mesmo aconteceu com dois antivirais: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/lopinavir-e-ritonavir-tem-resultados-negativos-para-covid-19/. Há, no entanto, resultados que dão esperança com anticoagulantes: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/nacionaisinternacionais/pesquisa-com-anticoagulantes-temresultados-promissores/
O mesmo se pode dizer com relação as vacinas: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/teste-de-vacina-de-oxford-tem-50-de-chance-de-sucesso/ ou:  https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/universidade-de-oxford-avanca-em-vacinas-acessiveis/.

Este aspecto, no entanto nos chama a atenção para a redistribuição das mesmas: https://covid.sh.utfpr.edu.br/noticias/pesquisas-cientificas/governo-frances-diz-ser-inaceitavel-que-eua-tenhamprivilegios-em-vacina/. Neste ponto, o que deve ser observado em detalhe é que houve de 1990 até a eleição de Donald Trump em 2016 uma marcada tendência ao multilateralismo nas Relações Internacionais que no momento apresenta uma séria inflexão onde se questiona o papel científico e político da Organização Mundial da Saúde.

Este texto serve como um pequeno guia de leitura do que o leitor encontrará em nosso site. Como já disse anteriormente sir Karl Popper, a ciência vive de questionar seus posicionamentos e certezas, assim, é provável que nos próximos meses (junho-julho de 2020) tenhamos os primeiros passos seguros no que diz respeito a medicamentos e vacinas e isso possibilite a flexibilização maior e mais segura do distanciamento social, única medida comprovadamente eficaz no controle da pandemia e porto seguro para a retomada do crescimento econômico adota com diferentes graus ao em todo o planeta.

Ao longo da vigência do projeto e conforme as notícias forem se acumulando, iremos comentar em detalhes os aspectos econômicos, políticos, sanitários, sociais e tecnológicos que a pandemia envolve, por hora, nos resta desde já afirmar que embora a dúvida seja a única certeza da ciência, esta é o caminho mais seguro a ser percorrido no enfrentamento de qualquer pandemia ou problema de saúde pública. Assim, é possível apontar algumas diretrizes seguras:

  1. Investimento em capacidade local de coleta, sistematização e análise de dados para entendimento da realidade em nível mundial, nacional, estadual e local.
  2. Investimento em capacidade local de produção de Equipamentos de Produção Individual, de testes e insumos hospitalares com diversificação da cadeia produtiva local.
  3. Monitoramento e Avaliação constantes da vulnerabilidade social e das políticas de proteção adotadas.
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