Uso de recursos digitais por escolas requer cuidados e proteção de dados, afirmam especialistas

21 de Maio de 2020

A suspensão das aulas como medida de distanciamento social durante a pandemia tem exigido a reorganização do trabalho de escolas e redes em todo o país. Debruçados sobre o desafio de que todos os estudantes tenham seu direito à educação assegurado, gestores e professores estão explorando cada vez mais os recursos digitais disponíveis para garantir algum contexto de aprendizagem.

São plataformas, sites, redes sociais, e aparelhos que entraram para o cotidiano educacional, demandando não apenas adaptações pedagógicas, mas também cuidado e proteção. “Precisamos preparar as redes escolares, as famílias e os estudantes para usar não só essas plataformas, mas a internet de modo geral, com responsabilidade”, diz Priscila Gonsales, diretora executiva e fundadora do Educadigital, instituição que desenvolve ações e projetos de educação aberta na cultura digital.

Um dos pontos que requer atenção, apontam especialistas, diz respeito à violência que pode ocorrer por meio das redes, como o assédio, o cyberbullying e o acesso a conteúdos pornográficos por crianças e adolescentes. Com o aumento do tempo de uso de aparelhos eletrônicos, eles ficam mais vulneráveis a essas questões. Mas também é preciso atenção ao armazenamento e uso indevido de dados e imagens pessoais.

Marina Pita, coordenadora do coletivo Intervozes, organização da sociedade civil que trabalha pela efetivação do direito humano à comunicação, afirma que o volume e detalhamento de dados passível de armazenamento, bem como a capacidade de processamento de informações que existe hoje, e tende a evoluir, permite traçar perfis psicológicos que podem ser usados para influenciar comportamentos e escolhas, violando o direito de autodeterminação dos sujeitos.

Citando James Bamford, advogado e escritor especialista em Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a especialista explica que as empresas possuem alta capacidade de acompanhar a construção de pensamento das pessoas, por exemplo, por meio de coleta de dados de pesquisa, formas de navegar, palavras utilizadas e as interações feitas. “Quanto mais informações você tem sobre essa pessoa, mais fácil influenciá-la, sobretudo se forem crianças e adolescentes”.

E nessa toada de mostrar aos usuários conteúdos e produtos relacionados a buscas feitas por eles, os resultados também podem ter impactos ainda mais sérios. Para exemplificar, Marina relata que adolescentes que estavam lidando com a bulimia eram constantemente expostos a conteúdos relacionados ao tema, desestabilizando esses jovens. “O uso de dados pessoais, no modelo econômico atual, está sendo explorado para fins de lucro sem uma larga pesquisa sobre os impactos sociais que causam”, alerta.

Como proteger os estudantes
Para cuidar dessas questões, as gestões públicas e escolares têm um papel fundamental. A especialista do Intervozes cita a necessidade de implementar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), prevista para entrar em vigor em agosto, e a leitura crítica e aprofundada por parte de gestores e professores dos termos de uso e privacidade das plataformas que redes e escolas indicam para os estudantes utilizarem. Na hora de fazer essa leitura, vale prestar atenção a quais informações serão coletadas, qual a necessidade e uso delas, como se dará o armazenamento, se serão compartilhadas, e em quanto tempo esses dados serão destruídos.

Outro caminho é investir no uso de recursos educacionais com licenças abertas, que não fazem uso dos dados pessoais dos usuários. “Para todas as ferramentas e plataformas, há uma alternativa com recursos abertos. O ReLia reúne vários deles”, ressalta Priscila Gonsales, do Educadigital, lembrando que esses recursos não necessariamente são gratuitos, uma vez que para desenvolvê-los há investimentos envolvidos.

O diálogo como prevenção
Outra parte fundamental de construir com crianças e adolescentes um uso saudável e responsável da internet, é trazer esses os temas da cidadania e segurança digital para os currículos, orientando estudantes sobre quais dados podem ser divulgados, como se comportar nas redes, como avaliar a segurança das interações com outras pessoas desconhecidas. É preciso também lembrá-los que o mundo virtual não deixa de ser real, com suas consequências e implicações, inclusive legais.


Fonte: Educação Integral
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