Ensino a distância na quarentena esbarra na realidade de alunos e professores da rede pública

18 de Maio de 2020

Desde que a quarentena teve início no Estado de São Paulo, um cenário de incertezas pairou sobre pais, alunos e professores. Com as aulas suspensas por tempo indeterminado, afinal, como ficaria o ano letivo? Inicialmente, a saída cogitada foi a antecipação das férias escolares. No entanto, após um mês, uma nova realidade se desenhava: a do ensino à distância.

Correndo contra o tempo, a Secretaria de Estado da Educação (SEE) conseguiu colocar no ar uma plataforma gigantesca, que permite conectar alunos e professores. A iniciativa, porém, esbarra em uma dura realidade: dificuldades dos alunos, seja pela falta de internet ou estrutura familiar, e a falta de preparo dos professores para lidar com a plataforma e todas as mudanças na forma de ensinar. “Para os professores, que estão na ponta do processo, está claro que esse modelo não funciona. Ele não é inclusivo e aumenta ainda mais as desigualdades”, diz Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores da Educação Oficial do Estado de São Paulo) e deputada estadual pelo PT, partido de oposição ao governador João Doria (PSDB). Para ela, não se trata apenas de um posicionamento corporativista, que defende o ensino em sala de aula, mas da falta de um melhor planejamento para o uso das ferramentas.

Demanda sufocante
Segundo a professora, todos os dias, quase 24 horas por dia, os professores da rede são bombardeados com mensagens que chegam pelas vias digitais – seja o WhatsApp, seja pelos chats da Central de Mídias. “Os professores se queixam que não conseguem dar conta da demanda e isso é angustiante para eles”, diz Noronha, compartilhando com a reportagem mensagens da rede WhatsApp recebidas de alunos, pais e professores se queixando de dificuldades para acessar o novo sistema.

“A cada dia, recebemos mais e mais relatos de professores que estão extremamente estressados e exaustos. A principal queixa deles é que não estão conseguindo ministrar o ensino a distância por várias questões: acesso à tecnologia, falhas na programação, falta de recursos, seja internet ou celular para dar conta das atividades”, explica Neuza Ribeiro, coordenadora a Subsede da Apeoesp em Araraquara.

Segundo Neuza, há uma grande pressão por parte da SEE e das diretorias de ensino para que o processo dê certo, sem levar em conta a realidade dos professores e alunos. “Além da pressão do dia a dia para dar conta do processo, que é novo e trabalhoso, os professores ainda sofrem com ameaças de faltas e até processos administrativos caso não consigam trabalhar o conteúdo programado”, diz. “Toda essa pressão é para tampar o sol com a peneira. Temos visto que isso não funciona nem mesmo na rede particular”, completa.


Fonte: BBC News Brasil
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