Covid e a escola: alguns vitrais se quebraram; favor não substituí-los

25 de Maio de 2020

Em tempos de fechamento, a escola está aprendendo a se abrir – e enxergar por meio de fraturas expostas nos muros da educação formal.

São cada vez mais raras as ortodoxias na vida contemporânea. Até agora estão restritas, no Brasil secular, a economistas e educadores. Os primeiros acreditam que a secura dos gastos públicos é o caminho indivisível para o desenvolvimento do país. Os segundos, que a aprendizagem ainda é uma possibilidade exclusiva da escola acumuladora de conhecimento, um templo de pilares greco-romanos. Após o “terremoto” pelo qual estamos passando, como mesmo definiram os economistas, de dogmáticos só sobrarão esses (e com um purismo ainda discutível).

Segundo a Unesco, 90% dos estudantes do mundo estão sem frequentar a escola durante a pandemia da covid-19. O tal terremoto, que resultou no confinamento social, sacudiu a educação formal. Como consequência, quebrou alguns vitrais pelos quais a escola enxergava o exterior, e este penetrava, criando uma atmosfera demasiado mística e hermética – um mundo próprio, desconexo da realidade.

A ideia de que, em uma sociedade em rede e digital, o conhecimento está potencialmente espalhado mora mais no discurso de Pierre Levy do que no pragmatismo cotidiano de muitas escolas, que ainda ostentam aulinhas de cinquenta minutos e métodos industriais. Tendências vão, diretrizes vêm, e a instituição escolar ainda cultiva a soberba de que tem direito hereditário sobre o que é ou não conhecimento. Sofre, sobretudo, com a capacidade de implementação de novos processos; contra ataques, se fecha ainda mais. Existem, sim, modelos acima da média, mas lutam para se multiplicar.


Fonte: Editora Segmento
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