As rápidas mudanças, alto nível de cobranças, frustrações diárias e dificuldades técnicas durante o ensino remoto comprometem o psicológico dos educadores brasileiros. “Ficamos muito fragilizados. Não temos culpa, não tem como culpar alguém por uma pandemia, mas parece que absorvemos essa responsabilidade e culpa”, desabafa Eliane Souza, professora da rede pública do Rio de Janeiro. “Temos que lutar o tempo inteiro”, afirma. O excesso de trabalho, o agravamento do estresse, ansiedade, insônia e outros sintomas relacionados com a saúde mental são relatos comuns entre os professores durante a pandemia da covid-19.
Entre 16 e 28 de maio, NOVA ESCOLA realizou a pesquisa “A situação dos professores no Brasil durante a pandemia”*, que contou com mais de 8,1 mil respondentes da Educação Básica. Destes, apenas 8% declararam se sentir ótimos ao comparar sua saúde emocional com o período pré-pandemia. Outros 28% a consideraram péssima ou ruim neste momento e 30% classificam como razoável. Nos comentários, entre os termos mais utilizados pelos professores para descrever a situação aparecem ansiedade, cansaço, estresse, preocupação, insegurança, medo, cobrança e angústia.
Frustrações diárias
A turma de Eliane é do 3º ano do Ensino Médio, na rede estadual do Rio de Janeiro, está com aulas on-line pela plataforma do Google Classroom (Google Sala de Aula). Como a maior parte dos professores que responderam à pesquisa, uma das dificuldades enfrentadas por ela durante a pandemia é a falta de acesso ou o acesso limitado dos alunos à tecnologia e à internet. Para tentar contornar a situação, a professora disponibiliza conteúdos leves e acessíveis para que eles tenham poucas dúvidas. No entanto, o sentimento é de não estar atingindo os objetivos. “A gente não consegue ter um retorno, porque poucas pessoas conseguem acessar. Eu fico frustrada, porque é obrigatório colocar conteúdo [no Google Classroom] e o aluno não acessa por diferentes motivos. Para que estou trabalhando?”, questiona Eliane.
Mas, o que é frustração? Ela está relacionada com uma expectativa não correspondida. “É o sentimento que nos acomete quando não conseguimos realizar um desejo, uma vontade ou uma necessidade […] É uma sensação, um pensamento, um estado interior que reflete a não conquista. É quando nos sentimos mal por não ter alcançado algo em que colocamos algum empenho […] a frustração tem a ver com o que esperamos das pessoas e das situações”, indica o livro Frustração: como treinar suas competências emocionais para enfrentar desafios da vida pessoal e profissional, de Adriana Fóz. Essa descrição te pareceu familiar? Pode ser o sentimento que vem quando aquela atividade que você gastou horas planejando não dá certo, ou quando você se aventura para utilizar uma nova ferramenta digital e os alunos não têm acesso a internet para consumir aquele material.
Eliane já tem um histórico com ansiedade e havia passado por um acompanhamento médico e psicológico. “Era uma coisa que eu achava que estava controlada”, afirma. No entanto, a pandemia chegou e velhos sintomas voltaram: falta de ar, tristeza, insônia e dificuldade de respirar. A professora não está sozinha nessa luta. Em contextos diferentes, o peso da pandemia dá sua forma. Nesta reportagem, você vai conhecer as histórias de Eliane Souza, Ana Ericka Pereira e Maria Aparecida**, entender quais são os sinais de atenção e as dicas para cuidar da saúde mental durante a quarentena.
Crises que retornam
Como muitos educadores no Brasil, a professora Eliane Souza tem dois vínculos: na rede estadual do Rio de Janeiro leciona Língua Portuguesa para o 3º ano do Ensino Médio. Na rede municipal de Nova Iguaçu (RJ) dá aula para o 3º ano do Fundamental. “Eu sempre fui muito acelerada. Tento me colocar no lugar do outro. Gosto de dar conta de tudo, de resolver tudo. E isso é muito perigoso”.
Com seus 3º anos, a professora vive duas realidades diferentes. Enquanto os mais velhos utilizam a plataforma do Google Sala de Aula com dificuldades de acesso, o contato com os alunos do Fundamental é mediado pela gestão da escola sendo os pais e responsáveis o ponto de contato. Não há comunicação direta entre professor e aluno. Além dos conteúdos, Eliane sempre reserva um espaço nas propostas para trabalhar o emocional dos alunos. Leia mais clicando no link abaixo.
Fonte: Nova Escola


