Se antes os eletrônicos eram estritamente proibidos em sala de aula e até mesmo confiscados pelos professores, hoje eles são a solução encontrada para adaptar a modalidade de ensino, respeitando as medidas de isolamento. A pandemia do novo coronavírus escancarou as desigualdades sociais em vários campos, e a dificuldade em conectar alunos e professores é uma reclamação frequente.
Desde alunos que não têm acesso a internet ou a computadores, até professores que encontram desafios para transpor o conteúdo para plataformas online — que muitas vezes têm seus próprios problemas —, ficou claro que o Brasil não está preparado para o ensino digital. A falta de preparo não fica restrita à dificuldade de acesso.
Especialistas relatam que a área da educação tradicional costumava caminhar a passos lentos em direção à digitalização. “De uma hora para a outra, fomos obrigados a dar um jeito e fazer avançar. Eu acredito que muitas coisas evoluíram em tecnologia nos últimos anos, e a educação sempre teve um… Vamos dizer, ‘ranço’ disso”, observa Sônia Bonelli, coordenadora do curso de pedagogia da PUC-RS. As aulas presenciais pouco mudavam, enquanto EAD (o ensino a distância) crescia. Mas ela ressalta que, durante a pandemia, estamos em um sistema diferente, não passamos simplesmente de um modelo a outro. “A gente não pode esquecer que a gente saiu do presencial, mas não entrou na modalidade EAD. Estamos num ensino remoto, tentando dar conta de um sistema que é todo presencial”. A entrada da tecnologia na educação, mesmo que aos trancos, pode ao menos trazer mais autonomia aos alunos e até mesmo mudar os sistemas atuais de avaliação, obrigando uma grande renovação de mentalidade, avalia a professora.
COMO ERA: A pesquisa TIC Educação 2019 (tecnologias de informação e comunicação) aponta que 34% dos alunos de escolas urbanas no Brasil não tinham acesso a nenhum tipo de computador em casa — desktop, laptop ou tablet. Entre os alunos de escola pública (ainda urbana), esse número sobe para 39% e, nas particulares, cai para 9%. Por região, são 48% sem acesso no Norte e 27% tanto no Sul quanto no Sudeste. Além disso, em apenas 23% das escolas do país os professores haviam recebido formação para uso de computador e internet em atividades de ensino e aprendizagem.Bonelli afirma que no ensino superior a digitalização já estava mais presente. “A questão da educação a distância como um todo no país era algo que vinha avançando muito, principalmente na graduação. Muitas universidades vinham oferecendo cursos de graduação utilizando tecnologias próprias ou já existentes”, afirma.
De 2017 para 2018 (dados mais recentes disponíveis), o número de matrículas em cursos de graduação a distância cresceu 17% e nos presenciais caiu 24,3%, segundo o Censo da Educação Superior do Ministério da Educação. Mauricio Jucá de Queiroz, Diretor Geral e coordenador do curso de graduação em Administração da FIA (Faculdade Instituto de Administração), também atesta essa mudança. Ele explica que percebia a necessidade cada vez maior de oferecer cursos tanto em modalidade síncrona (com professor e alunos conectados ao mesmo tempo) e assíncrona (gravada, que permite ao aluno estudar quando preferir). “A primeira mudança foi na educação executiva. Os profissionais queriam ter a possibilidade de fazer o curso de qualquer lugar. Ao mesmo tempo, tínhamos a entrada mundial dos treinamentos MOOCs (massive open online course), como Coursera, edX, Udemy. A gente já via uma crescimento desses outros players, essas plataformas online que já estavam oferecendo cursos livres”, relata Queiroz.
Fonte: UOL


