Aprendizagem online é em rede, colaborativa: para o aluno não ficar estudando sozinho a distância

10 de junho de 2020

No texto de abertura desta série sobre “Princípios da Educação Online” (PIMENTEL; CARVALHO, 2020), apontamos que, na Educação Online, a aprendizagem é em rede, colaborativa. Esse princípio se contrapõe à aprendizagem individualista típica da abordagem instrucionista-massiva frequentemente adotada na Educação a Distância (EAD), na qual o aluno interage predominantemente com os conteúdos da disciplina. Na perspectiva da Educação Online, como aqui temos caracterizado, partimos do reconhecimento de que somos atravessados por processos formativos de múltiplas redes educativas (ALVES, 2017) e do reconhecimento de que aprendemos em rede. Queremos, no presente texto, justificar esse princípio. Para isso, partimos dos estudos ciberculturais (LÉVY, 1999; LEMOS, 2009; SANTAELLA, 2013; CASTELLS, 1999), levando em consideração o cenário social e técnico de nosso tempo. Também justificamos esse princípio a partir de um ideário pedagógico e de fundamentos de teorias de aprendizagem. Terminamos refletindo sobre o que os estudantes disseram sobre a aprendizagem colaborativa experienciada na modalidade a distância.

Por que a cibercultura nos leva a pensarpraticar a aprendizagem em rede?
A cibercultura emerge da passagem da Sociedade Industrial para a nossa atual Sociedade em Rede, da Informação, da Comunicação, do Conhecimento, Conectada, Digital, Pós-industrial – seja lá qual for o nome que irá caracterizar a nossa sociedade contemporânea, o que todas essas denominações apontam é para uma transformação radical, uma verdadeira revolução que estamos vivenciando em decorrência do desenvolvimento e popularização das redes de computadores, uma tecnologia disruptiva que tem modificado não apenas hábitos e formas de agir, mas está gerando profundas transformações em praticamente todas as áreas da experiência cotidiana, de nossos modos de ser e estar no mundo (NICOLACI-DA-COSTA; PIMENTEL, 2011; NICOLACI-DA-COSTA, 2000; NICOLACI-DA-COSTA, 1998).

A cibercultura pode ser caracterizada a partir de alguns princípios, sendo um deles a “conexão generalizada em rede”, que tem como pressuposto a ideia de que “é preciso emitir em rede, entrar em conexão com outros, produzir sinergias, trocar pedaços de informação, circular, distribuir […] vemos crescer as formas de produção e o consumo informacional pela produção livre, pela circulação e por processos colaborativos” (LEMOS, 2009, p. 38-39). A conexão generalizada em rede potencializa a emergência de grupos e de comunidades online, que vêm possibilitando processos formativos em rede por meio da aprendizagem colaborativa: “O ponto principal aqui é a mudança qualitativa nos processos de aprendizagem. […] A direção mais promissora, que por sinal traduz a perspectiva da inteligência coletiva no domínio educativo, é a da aprendizagem cooperativa.” (LÉVY, 1999, p.170-171)

Reconhecemos um anacronismo entre a cultura contemporânea e o sistema educacional, que está fundamentado nos princípios tayloristas emergentes na Sociedade Industrial e que toma a fábrica como modelo para pensar a escola (SILVA, 2002). Esse modelo de escola e sua abordagem pedagógica tecnicista-instrucionista-comportamentalista-disciplinar-descontextualizada-seriada-massiva estão se tornando cada vez mais insustentáveis em tempos de cibercultura.

Pesquisadores vêm apontando que o sistema educacional entra em simbiose com o modo de ser e estar em sociedade. Numa apresentação sobre a “Educação 3.0” (LENGEL, 2013), foi retratado o alinhamento entre o ambiente de trabalho e o sistema educacional de cada espaço-tempo social, com o objetivo de denunciar que a nossa escola atual ainda carrega as marcas da sociedade industrial e, dessa maneira, encontra-se em dessintonia com as práticas laborais e o ambiente de trabalho característicos de nossa época:

Destacamos, contudo, que o papel da Educação não é formar apenas para o mercado de trabalho. Compreendemos que a Educação é um meio para promover a apropriação de uma dada cultura, seus conhecimentos, práticas, valores, costumes, condutas, artefatos… Por isso, a escola precisa estar alinhada com a cultura contemporânea, sendo que as práticas laborais também fazem parte da cultura, como também os meios de comunicação, os desenvolvimentos tecnológicos, as ciências, as artes, a moda, a estética, a política, a economia, os modos de produção-distribuição-consumo etc.Compreendemos a escola como uma “peça” importante da sociedade; contudo, não estamos dizendo que a finalidade da escola seja apenas perpetuar a cultura e seus sistemas opressores. Reconhecemos a complexidade da Educação e compreendemos que a escola deve contribuir também para criticar e transformar a cultura e a sociedade em que está inserida (ARAUJO; PIMENTEL, 2020).


Fonte: SBC
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