Cientistas ganham espaço nas redes sociais com explicações sobre Covid-19 e luta contra fake news

12 de novembro de 2020

Numa manhã do fim do mês passado, a neurocientista Mellanie Dutra pedia a seus quase nove mil seguidores no Twitter que dessem boas-vindas a Ruti, vacina espanhola que acabara de receber autorização para iniciar testes internacionais. Em seguida, fez um fio (como se chama uma sequência de posts) com diversos gifs (tinha até do Patolino) explicando detalhes do que se espera da Ruti e como ela será administrada na Argentina, o país escolhido para o teste.

Esse tipo de conteúdo é o que mais aparece na rede da jovem, que, junto a outras pesquisadoras, tem aproveitado as redes sociais (seja o Instagram, o Twitter, o Facebook, o YouTube ou até o TikTok) para dar um gás na divulgação científica. Por lá, elas informam e, principalmente, traduzem dados e análises sobre o novo coronavírus e a pandemia. Como a desinformação é 70% mais veloz do que a informação no mundo virtual (segundo dados do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT), essas mulheres se contorcem entre estudos, postagens e interações com seguidores para diminuir a distância entre a ciência e o público.

Conversamos com quatro dessas profissionais sobre suas áreas de atuação dentro e fora das redes e as estratégias usadas para combater aquela mensagem sem pé nem cabeça encaminhada pelos “tios do Zap”.

Mellanie Dutra, sergipana, doutora em Neurociência pela UFRGS, @mellziland no Twitter e no Instagram.
Nascida em Aracaju e vivendo entre Porto Alegre e Canoas (RS) desde muito pequena, Mellanie sempre quis trabalhar em laboratório, mas tinha medo de não conseguir espaço. “No colégio, não tinha muitos exemplos de mulheres na ciência. Ouvíamos sobre a Marie Curie (primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel, o de Física, em 1903, dividido Pierre Curie e Henri Becquerel), mas ficava só nela”, relembra a jovem, de 28 anos.

Incentivada pela mãe, que trabalha como vendedora técnica, entrou para o curso de Biomedicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e teve a grata surpresa de encontrar diversas colegas para orientá-la. Da iniciação num laboratório de neurociência, ainda na graduação, até o pós-doutorado na mesma área, ela construiu “uma visão feminina de ciência”.

Apesar de sua linha de pesquisa ser o desenvolvimento do sistema nervoso em pacientes com autismo, a Covid-19 acabou obrigando-a a mudar a direção do barco logo no início do ano. A pandemia afetou tanto seus experimentos quanto sua estratégia de atuação como divulgadora científica.

Se antes ela gostava de falar sobre neurociência em eventos ao vivo, agora, trabalhando de casa, descobriu a possibilidade (e a necessidade) de ampliar sua voz no maior desafio de saúde pública do século. “Eu já tinha esse desejo de falar sobre ciência em rede social. Então, o quadro atual foi um chamado muito forte. Na Covid-19, é muito importante o engajamento dos pesquisadores contra a desinformação”, diz ela, que também fundou a Rede Análise Covid-19 (@analise_covid19, no Twitter) para coletar e analisar dados divulgados sobre a doença.

Uma das estratégias de maior sucesso entre os seguidores de Mellanie no Twitter é o uso de figurinhas descontraídas para abordar assuntos, digamos, cabeludos. A explicação sobre um fragmento do vírus chamado RBD ganhou, por exemplo, um gif da banda mexicana, sucesso no início dos anos 2000. “Deixar os posts animados quebra a formalidade. A ciência tem que ser mais pessoal, fazer parte da vida de todo mundo”, diz a jovem.

Denise Garrett, mineira, mestre em ciências pela UFMG, @dogarrett no Twitter
Pense numa pessoa com tanta didática que já deu dicas até para Kate Winslet, quando a atriz viveu uma epidemiologista no filme “Contágio” (2011). Com um jeito simples de explicar doenças e processos complexos, essa médica nascida em Ouro Preto e radicada em Washington D.C. trabalhou 23 anos no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, onde Kate foi fazer “estágio”. Nesse tempo, foi à África participar de esforços contra o Ebola, organizou planos de controle da H1N1 na América e divide essa bagagem na internet, participando de lives, “traduzindo” estudos e tabelas e ainda respondendo dúvidas dos seguidores. Isso tudo sem parar o trabalho como vice-presidente de epidemiologia aplicada do Instituto Sabin de Vacina, onde está desde 2015.


Fonte: Yahoo Notícias
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