Elogiar demais os filhos pode atrapalhar a educação, mostra a ciência

15 de setembro de 2020

Sai uma geração, entra outra, e o debate sobre o ponto de equilíbrio entre o liberal e o severo na educação dos filhos segue firme. Cada família, imersa em sua própria cultura e modo de enxergar o mundo, envereda por uma trilha, num processo quase que intuitivo, à base de tentativa e erro. Mas já há boa ciência acumulada nesse terreno — um conhecimento capaz de derramar luz sobre os dilemas vividos por qualquer pai ou mãe e lhes dar algum norte sobre como agir. Uma nova frente de pesquisas vem se atendo a uma questão central, que atormenta progenitores de todo o planeta: até que ponto elogiar a criançada? Pois a conclusão colide com o velho ditado “Elogio nunca é demais” e sustenta que o excesso de manifestações positivas pode, sim, atrapalhar.

Uma das constatações a que os estudiosos chegaram reforça a ideia de que enaltecer o tempo todo os pequenos tende a gerar grandes bolhas, dentro das quais eles se percebem livres de defeitos e predestinados ao sucesso, conceitos naturalmente distorcidos. Outro efeito colateral do elogio em demasia é desencadear um ciclo movido a pressão, em que os filhos ficam constantemente tentando fazer frente às imensas expectativas depositadas neles. “Muitas vezes, avaliações generosas e abundantes sobre a habilidade da criança alimentam nela uma elevada ansiedade para corresponder”, frisa a VEJA o holandês Eddie Brummelman, coautor de uma das relevantes pesquisas sobre o tema, liderada pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos.

Ele e os colegas alertam ainda sobre um desdobramento na vida adulta daqueles que sempre recebem nota 10 dos pais (mesmo quando não merecem). “O choque de realidade pode levar à insegurança e à dificuldade de lidar com o fracasso. E a tendência acaba sendo a opção por caminhos mais fáceis com o objetivo de alcançar a sensação de vitória a qualquer custo”, diz Brummelman. Capitaneada pela especialista Carol Dweck, autora do best-seller A Nova Psicologia do Sucesso, a pesquisa de Stanford mergulhou de forma qualitativa em um universo de 400 estudantes, entre 11 e 12 anos.

De um lado, ficou a turma que recebia frequentes elogios de pais e professores acerca de suas notas e intelecto, e, do outro, um grupo exaltado pelo esforço envolvido na aquisição de saber na escola. Com todo o rigor científico, descobriu-se que aqueles que haviam sido sistematicamente valorizados pelo empenho se tornaram alunos mais interessados e abertos a desafios do que os que se acreditavam “brilhantes” — estes revelavam mais nervosismo antes das provas e preferiam explorar questões simples às mais complexas.


Fonte: VEJA
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