Com 42 anos de profissão e passagem marcante por grandes veículos de comunicação, como o jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista Antônio José do Carmo até hoje está militando pela notícia e defendendo a liberdade uma sociedade mais justa por meio de seu ofício. Nesta entrevista concedida à Folha da Região, ele diz que o melhor remédio contra as fake news é a lei, mas também ressalta que a sociedade deve valorizar mais o jornalismo profissional.
Qual o papel do jornalismo na cobertura política?
Revelar a realidade dos bastidores, mostrar quem são os políticos candidatos verdadeiramente, o passado deles, os fatos que estão envolvidos. É hora do empresário, professor, médico, pedreiro deixar de ser responsável por explicar sua vida somente a seus familiares ou sócios.
Na política a vida deles fica pública. Essa é a tarefa da imprensa. Permitir que os eleitores não se surpreendam depois da eleição.
Como o leitor deve se relacionar criticamente em relação à cobertura política por parte da imprensa?
Os militantes serão sempre contra. Os cidadãos de bem estarão dando sempre apoio.
Como as fake news têm afetado a forma com que as pessoas lidam com a informação?
É uma catástrofe as fakes porque elas representam o que há de podre, e que antes não tinha som, imagem e gravação em HD, para divulgar a conceitos ultrapassados, e elevar a ignorância para aqueles em condições intelectuais piores que a sua.
A vantagem das fakes é que valorizam os jornalistas. A gente sempre vai chegar com a verdade. Pode ser antes ou depois. Alguns já falaram em a BCG é uma vacina inútil e que a roda deveria ser reinventada, que o mundo é chato e que o homem não foi à lua. E por aí vai.
Qual o melhor remédio contra as fake news?
A lei.
O senhor tem uma larga experiência em jornalismo e cobertura política. Como o senhor vê hoje a relação da imprensa com o poder? Algo tem mudado ao longo do tempo?
Muito mudou e vai continuar mudando. A verdade absoluta dos grandes grupos de informação estão com os dias contados. Especialmente aqueles que usavam a audiência para apoiar ou criticar um político de estimação. Agora o direito de resposta pode ser mais violento em termos de reação, porque corre o risco de atingir público maior que o denunciante caluniador.
O poder da imprensa estará na sua capacidade de buscar a verdade e de estar sempre submetida a um público, consciente e bem informado, em condições de formar o seu conceito crítico sobre o que recebe de informação.
As redes sociais hoje são uma fonte de divulgação de ideias, inclusive as políticas. Como esta nova realidade impacta a cobertura jornalística no setor?
Acho que a legislação proibindo publicidade em multimídia eletrônica, num primeiro momento pode significar que o jornalismo não poderá ser atingido pela preferência daquele que paga mais. Mas, não vejo que o fator financeiro deixará de influenciar opiniões de jornalistas. Mas tudo que as redes sociais existem de um jornalista, é mais apuração dos fatos, mais responsabilidade com o que informa, mas todo mundo vai dar mais valor ao jornalista que ao político. Especialmente nesse momento de campanha.
O jornal impresso ainda tem papel relevante no cenário da cobertura política?
Tem sim. Pessoas com mais de 55 anos resistem em deixar de ver a notícia no papel. Para eles esse sim é documento. Existe um grande público para esse produto impresso ainda.
A polarização é um novo integrante do cenário político nacional. Como a imprensa deve lidar com este elemento?
Ouvindo o terceiro e o quarto lado. Não entrando nessa bipolarização. Pulverizar com mais proposta e condutas diferenciadas dos outros.
Ler ajuda na tomada das decisões do eleitorado? Como buscar as melhores fontes de informação?
Acho que o leitor deveria sugerir mais pautas para a imprensa e também a imprensa ter mais humildade para ouvir as sugestões dos leitores.
Fonte: Folha da Região


