Famílias com idosos em casa temem levar crianças à escola devido à covid

21 de agosto de 2020

Famílias com crianças matriculadas na rede municipal temem que uma eventual ida dos alunos para a escola acabe transportando o coronavírus para dentro de casa, afetando principalmente os idosos que vivem com elas —pessoas com mais de 60 anos fazem parte do grupo de risco para a covid-19, doença causada pelo vírus.

Funcionária de uma confecção de roupas, Helena Macedo Leite Francisco, 63, mora em um bairro da zona norte com três filhos adultos e cinco netos que têm de 4 a 8 anos. Dois deles são alunos da rede municipal. Na casa de três cômodos, a família tem passado os últimos meses em isolamento. Ela conta que os dias têm sido “difíceis”, mas diz não ter dúvidas sobre a decisão de não mandar as crianças para a escola caso as aulas voltem ainda este ano.

“Se as crianças pudessem ir para a escola e vir para casa, seria um risco muito grande para mim”, diz ela, que está afastada da empresa onde trabalha há pelo menos cinco meses justamente por fazer parte do grupo de risco para a covid. Única trabalhadora registrada da família, ela continua recebendo o salário e esporadicamente realiza serviços de casa.

Dados de um inquérito sorológico realizado com alunos da rede municipal de São Paulo, divulgados na terça-feira (18), mostraram que 64,4% dos estudantes que foram testados e tiveram a covid-19 foram assintomáticos. Os resultados foram utilizados pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) como argumento para o anúncio de que as escolas públicas e particulares da capital não abrirão parcialmente em setembro, como autorizado pelo governo do estado.

“[São] Duas a cada três crianças contaminadas com o vírus, sem inclusive não apresentar nenhum sintoma. A escola coloca o medidor de temperatura na porta, não vai apresentar que está febril. Mas ela está contaminada —e, às vezes, com a mesma carga viral de um adulto”, disse o prefeito. Os dados do inquérito sorológico mostraram ainda que 25,9% dos alunos moram com pessoas maiores de 60 anos, um dos grupos de risco para a covid-19.

“Querendo ou não, a criança vai ser um meio muito mais fácil para algum idoso ou algum parente dentro de casa que tem algum problema respiratório pegar [a doença] e acontecer algum falecimento”, avalia Renan Leite de Carvalho, 25, um dos filhos de Helena e tio das crianças. Ex-aluno de escolas da rede municipal, ele diz acreditar que os colégios não terão condições para receber os estudantes em meio à pandemia. “A gente que estudou em escola pública conhece como é”, afirma. “Não tem condições, porque sabemos que os professores não vão conseguir ter um controle para fazer com que a criança mantenha a higienização, com álcool em gel, com a máscara”.


Fonte: UOL Educação
Translate »